VALENTE,
J. A. Visão analítica da Informática na Educação no Brasil: a questão da
formação do professor. Revista Brasileira de Informática na Educação.
RS: Sociedade Brasileira de Computação, nº 1, set. de 1997. Disponível em: <
http://www.geogebra.im-uff.mat.br/biblioteca/valente.html>
Resumo:
Os autores narram, as principais características do desenvolvimento da
Informática na Educação nos Estados Unidos da América e na França.Sendo o
Programa Brasileiro de Informática na Educação, influenciado pelo que foi
realizado em Informática na Educação nesses países e, portanto, a discussão
dessas realizações cria um contexto bastante importante para entender o
Programa Brasileiro.
Posteriormente os autores
descrevem as bases para a Informática na Educação no Brasil de maneira mais
simples.
Por fim, vai mais a fundo nas questões da formação do professor e dos
avanços tecnológicos em harmonia com os requisitos e diferenças do Programa
Brasileiro.
Citações principais do texto:
“Mesmo nos países como Estados Unidos e França, locais onde houve uma
grande proliferação de computadores nas escolas e um grande avanço tecnológico,
as mudanças são quase inexistentes do ponto de vista pedagógico. As mudanças
pedagógicas são sempre apresentadas ao nível do desejo, daquilo que se espera
como fruto da informática na educação. Não
se encontram práticas realmente transformadoras e suficientemente enraizadas
para que se possa dizer que houve transformação efetiva do processo educacional
como por exemplo, uma transformação que enfatiza a criação de ambientes de
aprendizagem, nos quais o aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o
professor transmitir informação ao aluno.” (p.3)
“Já no caso da reforma da educação, o problema era
o de entender os conceitos sobre aprendizado, preparação de manware e
a falta de uma concepção sobre a real necessidade de tal mudança no ensino (o
que Papert tentou fazer em seu artigo). Embora essa polêmica devesse ser o foco
da discussão da conferência, como disse o organizador do documento (Seidel,
1977), os participantes estavam mais interessados em apresentar seus produtos
do que em discutir os propósitos da educação.”(p.4)
”O aparecimento dos microcomputadores,
principalmente o Apple, no início dos anos 80 permitiu uma grande disseminação
dos microcomputadores nas escolas. Essa conquista incentivou uma enorme
produção e diversificação de CAIs, como tutoriais, programas de demonstração,
exercício-e-prática, avaliação do aprendizado, jogos educacionais e simulação.(...)
Entretanto, a presença dos microcomputadores permitiu também a divulgação de
novas modalidades de uso do computador na educação como ferramenta no auxílio
de resolução de problemas, na produção de textos, manipulação de banco de dados
e controle de processos em tempo real. De acordo com essa abordagem, o
computador passou a assumir um papel fundamental de complementação, de
aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade da educação, possibilitando
a criação de ambientes de aprendizagem.”(p.4)
“O computador é largamente utilizado na maioria das
escolas de 1° e 2° graus e universidades. No entanto, isso não significa que a
utilização maciça do computador tenha provocado ou introduzido mudanças
pedagógicas. Muito pelo contrário. A mudança pedagógica, ainda que muito lenta,
foi motivada pelo avanço tecnológico e não por iniciativa do setor educacional.(...)
Alguns críticos dessa abordagem pedagógica argumentam que a exploração da rede,
em alguns casos, deixa os alunos sem referência, com sensação de estarem
perdidos ao invés de serem auxiliados no processo de organizar e digerir a
informação disponível.”(p.5)
“Hoje o computador passou a fazer parte da lista de
material que o aluno de graduação deve adquirir e o seu uso se tornou rotineiro
em praticamente todas as atividades desde a produção de documentos, uso em sala
de aula e em laboratório, consulta à banco de dados, comunicação entre alunos e
aluno-professor e desenvolvimento das disciplinas. Isso significa que o aluno
sai da universidade com um bom conhecimento sobre o uso da informática. Porém o
processo pedagógico envolvido no preparo do aluno de graduação ainda não sofreu
mudanças profundas e enfatiza-se basicamente a transmissão de informação.”(p.6)
“(...)planejamento os dirigentes franceses julgaram ser fundamental a
preparação, antes de tudo, de sua inteligência-docente. E foi aí que dedicaram
muitos anos e muitos recursos à formação de professores.”(p.7)
“A informática deixou de ser ensinada como disciplina, passando a ser
empregada desde o 1º grau como ferramenta tecnológica, sendo freqüente o
emprego da robótica pedagógica.(...) Embora na França tenham sido propostos
inúmeros projetos de informática na educação, para alguns autores, esses
projetos não tiveram êxito ou não provocaram mudanças pedagógicas. No entanto,
é difícil determinar o que significa êxito ou mudança em tão curto espaço de
tempo, quando o pretendido é formar a cultura de um povo.”(p.9)
“Parece-nos que a tendência interdisciplinar
presente no domínio da informática desenvolveu estas potencialidades de uma
educação mais aberta e articuladora.(...)Entretanto, se tais alterações de
perspectivas pedagógicas ocorreram, elas não foram planejadas. Esses avanços
pedagógicos se deram por causa da introdução da informática na escola. O
difícil, seguramente, é destacar esta ou aquela causa como o único agente de
avanço. Essa causas formam um todo indicativo da gestação longa e difícil do
novo. No entanto, esses avanços ainda estão longe das transformações
pedagógicas desejadas.(...) Outra preocupação do programa francês tem sido o de
garantir a todos os indivíduos o acesso à informação e ao uso da informática.”(p.10)
“O uso das Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação impõe mudanças nos métodos de trabalho dos professores, gerando
modificações no funcionamento das instituições e no sistema educativo. Tais
modificações são de caráter discreto e seus resultados não aparecerão senão em
uma macro-história educacional.”(p.11)
“A função do MEC era a de acompanhar, viabilizar e
implementar essas decisões. Portanto, a primeira grande diferença do programa
brasileiro em relação aos outros países, como França e Estados Unidos, é a
questão da descentralização das políticas. No Brasil as políticas de
implantação e desenvolvimento não são produto somente de decisões
governamentais, como na França, nem conseqüência direta do mercado como nos
Estados Unidos.A segunda diferença entre o programa brasileiro e o da França e
dos Estados Unidos é a questão da fundamentação das políticas e propostas pedagógicas
da informática na educação. Desde o início do programa, a decisão da comunidade
de pesquisadores foi a de que as políticas a serem implantadas deveriam ser
sempre fundamentadas em pesquisas pautadas em experiências concretas, usando a
escola pública, prioritariamente, o ensino de 2° grau. A terceira diferença é a
proposta pedagógica e o papel que o computador deve desempenhar no processo
educacional. No nosso programa, o papel do computador é o de provocar mudanças
pedagógicas profundas ao invés de "automatizar o ensino" ou preparar
o aluno para ser capaz de trabalhar com o computador. O grande desafio era a
mudança da abordagem educacional: transformar uma educação centrada no ensino,
na transmissão da informação, para uma educação em que o aluno pudesse realizar
atividades através do computador e, assim, aprender. A formação dos
pesquisadores dos centros, os cursos de formação ministrados e mesmo os
software educativos desenvolvidos por alguns centros eram elaborados tendo em
mente a possibilidade desse tipo de mudança pedagógica.”(p.11 e 12)
“Somente através das análises das experiências
realizadas é que torna-se claro que a promoção dessas mudanças pedagógicas não
depende simplesmente da instalação dos computadores nas escolas. É necessário
repensar a questão da dimensão do espaço e do tempo da escola. A sala de aula
deve deixar de ser o lugar das carteiras enfileiradas para se tornar um local
em que professor e alunos podem realizar um trabalho diversificado em relação a
conhecimento e interesse. O papel do professor deixa de ser o de
"entregador" de informação para ser o de facilitador do processo de
aprendizagem. O aluno deixa de ser passivo, de ser o receptáculo das
informações para ser ativo aprendiz, construtor do seu conhecimento. Portanto,
a ênfase da educação deixa de ser a memorização da informação transmitida pelo
professor e passa a ser a construção do conhecimento realizada pelo aluno de
maneira significativa sendo o professor o facilitador desse processo de
construção.”(p.13)
“Essa formação tem sido feita através de cursos que
requerem a presença continuada do professor em formação. Isso significa que o
professor em formação deve deixar sua prática pedagógica ou compartilhar essa
atividade com as demais exigidas pelos cursos de formação. Além das
dificuldades operacionais que a remoção do professor da sala de aula causa, os
cursos de formação realizados em locais distintos daquele do dia-a-dia do
professor, acarretam ainda outras. Primeiro, esses cursos são
descontextualizados da realidade do professor. O conteúdo dos cursos de
formação e as atividades desenvolvidas são propostas independentemente da
situação física e pedagógica daquela em que o professor vive. Em segundo lugar,
esses cursos não contribuem para a construção, no local de trabalho do
professor formando, de um ambiente, tanto físico quanto profissional, favorável
à implantação das mudanças educacionais. Em geral, o professor, após terminar o
curso de formação, volta para a sua prática pedagógica encontrando obstáculos
imprevistos ou não considerados no âmbito idealista do curso de formação;
quando não, um ambiente hostil à mudança.”(p.14)
“Como os cursos de formação não oferecem condições
para os professores aprenderem, efetivamente, a usar o computador, a esses
professores não restam muitas alternativas: eles se acomodam ou abandonam o seu
ambiente de trabalho. Resultado: não alcançamos as mudanças e ainda
contribuímos para o fracasso dos cursos de formação de professores!”(p.15 e 16)
“A nossa experiência observando professores desenvolvendo
atividades de uso do computador com alunos tem mostrado que os professores não
têm uma compreensão mais profunda do conteúdo que ministram e essa dificuldade
impede o desenvolvimento de atividades que integram o computador.”(p.19)
“Na verdade, a introdução da informática na
educação segundo a proposta de mudança pedagógica, como consta no programa
brasileiro, exige uma formação bastante ampla e profunda do professor. Não se
trata de criar condições para o professor dominar o computador ou o software,
mas sim auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o próprio conteúdo e sobre
como o computador pode ser integrado no desenvolvimento desse conteúdo.”(p.20)
“As práticas pedagógicas inovadoras acontecem
quando as instituições se propõem a repensar e a transformar a sua estrutura
cristalizada em uma estrutura flexível, dinâmica e articuladora.”(p.20)
“Os avanços tecnológicos têm desequilibrado e
atropelado o processo de formação fazendo com que o professor sinta-se
eternamente no estado de "principiante" em relação ao uso do
computador na educação.”(p.21)
“A formação do professor deve prover condições
para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda
por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de
superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica.”(p.22)
Comentários(Parecer e Crítica):
Logo
no início do artigo, os autores nos colocam que o nosso Programa de Informática na Educação, foi influenciado pelo que foi
realizado em Informática na Educação na França e EUA, o que acaba por confirmar
mais uma vez que o Brasil tem por “cultura” importar modelos norte americanos
de educação, como por exemplo o MEC-USAID. O que não é bem visto, já que antes
de importarmos algo devemos avaliar se esse modelo de educação utilizado no
exterior, funcionaria e caberia no contexto brasileiro.
Ao que diz respeito à formação do professor, acredito que o governo deva
focar o quanto antes nessa questão(digo em todas as variáveis da educação), já
que o professor mal qualificado, acaba por transmitir sua má qualificação ao
aluno, perpetuando assim o mal preparo da sociedade, causando assim uma menor
possibilidade de avanços tecnológicos, intelectuais e econômicos para a
sociedade.
Questionamentos(Questões levantadas e
dúvidas):
A partir da leitura do artigo, percebemos que uma boa
formação do professor tem grande parcela de “culpa”, no que diz respeito ao
sucesso desses programas de Informática na Educação, mas que o Governo não tem
sabido elaborar cursos eficazes e bem preparados para uma boa formação dos
profissionais da educação, principalmente os envolvidos com a Informática na
Educação. A partir disso, questiono se é o governo que não tem se comprometido
a investir numa boa formação e só copia modelos do exterior, se são os
profissionais que criam esses cursos que não se interessam em desenvolver bons
cursos e transmitir/educar de forma plena os professores que precisam de
conhecimento em informática, ou se a falta de comprometimento e interesse dos
professores com essa formação.